O Paradoxo da Felicidade- O conceito Cristão de Felicidade

Todos nós desejamos ser felizes. De fato, a felicidade é a palavra que usamos para designar o estado básico que almejamos na vida. Nós desejamos estar bem, ter paz, ser queridos. Queremos dias confortáveis, cheios de prazer e não de dor.

Desejamos significado e propósito, queremos amar e ser amados e perpetuamos nossos melhores momentos para sempre.

Não existe manual para a felicidade, pois manual é para as maquinas o que é incompatível com a complexidade do ser humano.

A felicidade é a busca central da nossa vida, o conceito governante das nossas ambições, desejos e motivos. A felicidade é, em outras palavras, a fome mais básica do ser humano.

Pascal assim redigiu “Todos procuram a felicidade, sem exceção”…” apesar de usarem meios diferentes, todos trabalham para esse objetivo”. Ou seja, seja cristão ou ateu, todos buscam de algum modo pela a felicidade.

No entanto, as pessoas tomam caminhos diferentes: algumas buscam no trabalho, outras em um amor íntimo, outras em prazeres intensos e até em momentos fáceis. Mas todos almejam o mesmo fim: uma vida feliz. A felicidade pode ser mensurada em dólares, abraços ou sonecas, mas ela é sempre buscada.

A força controladora que a ideia de felicidade exerce sobre a nossa vida muitas vezes nos surpreende, pois costumamos, na verdade, focalizar as conquistas que acreditamos que nos farão felizes. É nesse estágio que começamos a pensar e traçar trajetória que em nossa mente nos farão felizes, por exemplo: se eu comprar a minha casa serei feliz porque o meu problema com o aluguel vai acabar(….), se eu cassasse ou quando eu casar eu vou ser feliz (…), quando eu tiver um filho eu vou ser completamente feliz (…), ou quando eu passar para o concurso tal eu serei feliz…

Ou seja, colocamos a nossa felicidade centrada nas conquistas.

Não importa como entendemos, os cristãos também desejam a felicidade, pois é isso que governa o nosso coração, talvez seja esse o nosso desejo quando a aceitamos a salvação e a vida de Jesus somos mais felizes.

Agostinho afirma que “Se eu lhes perguntasse porque vocês creram em Cristo, por que se tornaram cristãos “…cada homem iria responder: Pela Felicidade”.

Pois entendemos que Jesus é a resposta para a nossa busca, quem saciará a fome do nosso coração. Enxergamos a promessa de felicidade de Cristo, vemos que ele tomará sobre si o nosso jugo e nos encherá de alegria.

Querer ser feliz é algo bom, porque Deus nos criou para sermos felizes. Foi ele quem colocou em nosso coração esse anseio por deslumbre, alegria, paz, amor e puro deleite. É Deus quem dá o dom da vida e a tenham em plenitude.

O plano de Deus para as criaturas é uma existência feliz, desfrutando os prazeres que Deus salpicou pelo mundo celebrando em adoração a bondade de Deus, em comunhão e fraternidade recheadas da graça de Cristo.

Ressalta-se, todavia, que a felicidade não é o conceito governante na cosmovisão cristã, nem deve permanecer a razão final de vida para quem veio a conhecer um Deus mais Digno que qualquer outro objetivo.

A felicidade é um objetivo cristão válido porque está enraizada no próprio ser de Deus: o nosso Deus é um Deus feliz.

E fomos criados a sua imagem e semelhança.

O grande problema reside no nosso conceito atual de felicidade. A nossa definição de uma vida satisfeita distanciou-se do ideal cristão de vida com e em Deus, e foi reduzida a algo bem particular. A felicidade tornou-se o resultado de esforços individuais. A raiz ética da noção de felicidade que seria um resultado da virtude, como a bênção recompensadora da santidade, a felicidade é entendida agora como algo menor e trivial, como FRAGMENTOS DE PRAZER.

A vida feliz é, atualmente, concebida como uma sucessão de dias encharcados de prazer e dor só de vez em quando. A noção de felicidade, conforme o entendimento hoje, é algo individual e momentâneo, bem distinto daquilo que Jesus apregoava “Felizes são os puros de coração”. Não é uma noção de felicidade que envolve bondade, amor, generosidade, que é assegurada pela virtude, como disse Tomás de Aquino. É hoje em dia, associada a satisfação de momentos privados de prazer.

Esse entendimento atual de felicidade teve suas raízes na recuperação moderna da filosofia grega de vida de Epicuro, baseada no prazer e na dor.

A nossa concepção atual de felicidade é também artificial, pois está divorciada do sofrimento. É compreendida, na verdade, como o oposto do sofrimento: como uma sucessão sem fim de momentos calmos e agradáveis. Porém, não podemos olvidar que o sofrimento faz parte da vida.

Excluir o sofrimento da nossa concepção de uma vida feliz é permanecer com uma noção artificial de felicidade. É limitar a felicidade à dimensão da irrealidade, pois o sofrimento é parte de cada dia das nossas vidas e de cada momento feliz também.

No livro de marcos 8: 34-37, diz:

“E, chamando a multidão com os discípulos, disse-lhes: ’Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser preservar sua vida, irá perdê-la; mas quem quiser perder a vida por causa de mim e do evangelho, irá preservá-la. Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Ou que daria o homem em troca da sua vida”.

As palavras de Jesus são tão dissonantes dos nossos paradigmas de felicidade que nos fazem parar por um momento, balançar a cabeça e olhar de novo: “Eu realmente li isso? Jesus está falando sério? Mas a lemos corretamente. Ele nos chama para negarmos a nós mesmos, a perdemos nossa vida para que possamos encontrar a nossa felicidade.

Jesus aponta em seu paradoxo que o projeto de satisfazer as demandas do eu nos deixa vazios, insatisfeitos e, em última análise, sem vida. Tentamos saborear e salvar nossa vida, mas só podemos perdê-la, afinal a cada dia morremos um pouco.

O projeto de autossatisfação não leva nem perto do ideal de felicidade. É a lógica errada. É uma questão de não buscar a felicidade, é uma questão de não viver para si mesmo, mas para Deus e para os outros.

O que se observa é que a felicidade nos encontra, vem como a consequência de uma vida especifica. A felicidade bate a nossa porta. Ela chega para quem não a procurava. A felicidade é um presente, não uma conquista. Ela não pode ser comprada, mas somente recebida. Ela somente pode ser mantida se a oferecemos a outros. Assim, como Jesus nos ensinou.

Polyonara Victor