Nossa Liberdade tem Limites

“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”.Sal 46:10

A liberdade religiosa tem limites e os cristãos deveriam saber disto. Algumas igrejas têm sonegado, no entanto, o direito ao silêncio aos seus vizinhos. Em vez de evangelização, provocamos irritação na vizinhança, sem falar na desvalorização dos imóveis nas cercanias de um templo ruidoso. O culto de louvor, também, jamais deveria ser fonte de poluição sonora para os adoradores. Talvez o que os instrumentistas e adoradores não saibam é que, na esfera civil, o som tem como limites o humor da vizinhança e, no caso da saúde dos adoradores, é desejável que não ultrapassemos os 85 decibéis. Digo isto porque algumas igrejas têm tido desprazer de conhecer seus limites quando são surpreendidos pela visita inesperada de uma autoridade judicial. O colunista da revista VEJA Cláudio de Moura Castro, em seu artigo “No país dos decibéis”, deixa a entender que, no Brasil, parece existir um concurso para ver quem faz mais barulho. “Uivam motos sem silenciosos. Os pneus cantam nas curvas. A cachorrada da vizinhança tem cordas vocais de aço-molibdênio. As igrejas e os cultos confundem decibéis com fé. A obra-prima da agressão sonora são uns automóveis cujos porta-malas se abrem revelando uma bateria de alto-falantes, terrível usina de decibéis”. É triste saber que as igrejas se enquadram entre os fora da lei. É como se, dolosamente, os cuidadores da alma negligenciassem o cuidado com os ouvidos e o humor da vizinhança e dos adoradores. Francisco Lemos, ex-editor da Revista Adventista, deu outro enfoque à discussão. Ignoramos a presença de Deus ao lhe oferecer uma adoração insalubre. “Os adoradores conversam cada vez mais e os cantores exigem som cada vez mais amplificado… Não é possível adorar a Deus num ambiente tumultuado, com vai e vêm constante de pessoas, gente falando o tempo todo, cantores embalados por orquestras retumbantes e caixas de som tonitruantes… A partir de 85 decibéis, não importa se o som é agradável ou não, se é produzido por música rock ou sacra ele é, de qualquer modo, prejudicial ao corpo e em especial à audição”.Mesmo que sua igreja possua um isolamento acústico de primeira qualidade ou forneça um protetor auricular para os instrumentistas da equipe de louvor e adoração, vez por outra os profissionais de saúde se deparam com religiosos que se queixam de um zumbido, hiperacusia, perda auditiva, estresse, irritabilidade, dificuldade de concentração, ansiedade, depressão, pressão alta, doenças cardíacas e outros problemas de saúde. A ciência e a sociedade botam culpa na religião e atribuem a gênese destes sinais e sintomas aos ruídos da fé – instrumentos musicais e sistemas de amplificação sonora. Este é o lado ruim da música para os músicos e para os membros da igreja.

João Marques