Acampadentro
Acampar sem barracas e sem barracos. De preferência, num hotel-fazenda!
Essa é uma tradição muito aguardada na IASD Sudoeste durante o carnaval! Desta vez, a quadra da igreja será palco.
Convidamos o profeta Isaías para o tema de abertura. “Acamparei ao redor de você, vou cercá-la de trincheiras e levantarei rampas de ataque contra você” (Isaías 29:3 e 4).
Crentes, de um modo geral, preferem “o acampamento de Deus” em Maanaim (Gênesis 32: 1 e 2), onde anjos da guarda ficaram de prontidão para socorrer Jacó durante seu reencontro com Labão. Extraímos ideia parecida do Salmo 34: 7, onde “o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra”, inclusive do coronavírus. Este refrão do livramento não sai da boca e nem da cabeça dos que suplicam um milagre ou intervenção divinas. Quando escreveu tais palavras, Davi havia conseguido escapar do rei Saul e do rei de Gate para a caverna de Adulão (I Samuel 21: 10 – 22: 1). Mais recentemente, comecei a meditar na promessa de Zacarias 9: 8: “Eu me acamparei ao redor da minha casa para defendê-la contra forças invasoras”. E, aqui, quase posso ouvir um amém dos teólogos da prosperidade.
Na contramão, Isaías 29 nos apresenta uma cena de Deus cercando Jerusalém e seu povo – “Acamparei ao redor de você, vou cercá-la de trincheiras e levantarei rampas de ataque contra você”. E assim, o Deus conosco (Isaías 7: 14; Mateus 1: 23) se tornou o Todo Poderoso contra nós. Inimaginável! Deus sitiou seu povo e as trincheiras e rampas de ataque estão aí para nos lembrar dos métodos usados na antiguidade para humilhar as nações. Vislumbres dessa estratégia são vistos nos cercos e fome de Samaria (II Reis 6: 24 e 25; 17: 5) e de Jerusalém e das cidades fortificadas de Judá (II Reis 24: 10 e 11; 25: 1-4; II Crônicas 32: 1 e 9). Rampas de ataque e máquinas de guerra foram utilizadas usadas por inimigos, como Senaqueribe e Nabucodonozor (II Reis 19: 32; Jeremias 33: 4; Ezequiel 4: 2). Eis que, de repente, “a multidão de inimigos” (Isaías 29: 5), “a multidão de tiranos” (Isaías 29: 5) e a “multidões de nações” (Isaías 29: 7 e 8) colocariam Jerusalém em aperto e Deus viria com eles. Deus viria com “o castigo dos trovões, com terremoto, grande estrondo, tufão de vento, tempestade e labaredas de um fogo devorador” (Isaías 29: 6). Senaqueribe estaria interessado nas taxas de proteção (II Reis 18: 7, 13-16) que os comerciantes pagam para as milícias cariocas; o Todo Poderoso, em fazer acampamento no coração de cada israelita (João 14: 23). E, duplamente cercado, só restou a Judá uma rota de fuga para Deus.
A pergunta que não pode calar é: Por que Deus fez isto com seu povo? O porquê dos dois cercos? O profeta Isaías denuncia pelo menos uma tríade de pecados que gerou este acampamento de Deus: cegueira espiritual, hipocrisia religiosa e ateísmo prático.
Cegueira Espiritual (ISAÍAS 9: 9-11)
Ao falar de cegos e bêbados espirituais (Isaías 9: 9), o profeta se volta para aqueles que pensam que a vida é um grande piquenique ou um grande parque de diversões; até se inscrevem e vão para um retiro de verão, mas só conseguem extrair adrenalina na hora das refeições, das libações, da sociabilidade e do lazer. São verdadeiros foliões que desfilam pelos corredores do hotel e da igreja desinteressados no “Assim diz o Senhor”, bem diferente daquele que anda “embriagado” com “o Senhor e … suas santas palavras” (Jeremias 23: 9).
Vejam os contrastes gritantes entre os ébrios e os sóbrios:
“Uma pessoa pode estar sentada no banco da igreja, ouvindo o evangelho e pensando: ‘Nunca soube que a Bíblia tinha tanto a me dizer. Isso é tão importante. Mal posso esperar até o próximo’” culto.
“Enquanto isso, outra pessoa ao seu lado pode estar pensando: ‘Isso é tão estúpido. Por que a Bíblia não diz alguma coisa impressionante, alguma coisa de acordo com o meu nível’“¹.
O “nível da bíblia” e o “meu nível” podem ser antagônicos. Na medida em que o nível de relevância da bíblia cresce em minha vida, o “meu nível” se achata e se prostra em adoração ao Criador e Salvador. Enquanto isso, pessoas que se consideram “demais” rejeitam e desprezam a Palavra de Deus, como Saul (I Samuel 15: 23). Consideram-na antiquada. Param de esquadrinhá-la, porque o discurso de Deus não mais prende sua atenção. Isto é o que Paulo chama de “operação do erro” (II Tessalonicenses 2: 11). Na linguagem de Isaías, “o Senhor derramou sobre vós o espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, que são os profetas, e vendou a vossa cabeça, que são os videntes” (Isaías 29: 10). Esse “espírito divino de profundo sono” funciona como a catarata nos olhos, uma das três principais causas de cegueira do mundo. Pouco a pouco deixamos de ver o mundo ao nosso redor com nitidez e se a cirurgia não for providenciada rapidamente, rapidamente deixaremos de enxergar a verdadeira vida como ela é. Troquemos as lentes, meus irmãos, e não permitamos que um cego espiritual conduza nossa vida inteira para longe de Deus.
Ouça com atenção, agora, o “Assim diz o Senhor” em Isaías 29: 11 nos apresenta um outro grave perigo para onde nos conduz a cegueira espiritual.
“Toda visão já se vos tornou como as palavras de um livro selado, que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele responde: Não posso, porque está selado; e dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele responde: Não sei ler”.
Que tamanha indiferença espiritual se escancara quando os membros da igreja são desafiados a ler a Palavra de Deus. Quase posso ver e ouvir o Pastor Miguel nos exortando para que antes de comer, antes de beber, antes de qualquer coisa façamos o nosso desjejum espiritual. “Alimente-se da verdade” (Salmo 37: 3)! “Busquem em primeiro lugar o reino de Deus…” (Mateus 6: 33)! O comentário abaixo ampliará nossa compreensão sobre a narrativa de Isaías.
“A chave para essa seção é o retrato de dois homens nos versículos 11 e 12. No versículo 11, vemos o exemplo de alguém culto e estudado. Alguém lhe entrega um pergaminho enrolado, uma Bíblia fechada. Mas ele é preguiçoso demais para abrir e descobrir o que está escrito. No versículo 12, vemos um homem iletrado, sem estudos. Alguém lhe entrega um pergaminho profético, mas ele não sabe ler e não tem nenhum interesse em aprender. Essas duas atitudes são sintomas de descrença e Deus transforma essa aversão pela verdade numa cegueira espiritual”².
O homem letrado não se interessa o suficiente sobre o que Deus diz para quebrar o selo e lê-lo. São nossas agendas cheias de compromissos inadiáveis nos levam a adiar o compromisso mais importante que fizemos com Deus de nos assentar aos seus pés (Lucas 10: 41; Salmo 25: 14; Deuteronômio 33: 2) nos lugares celestiais (Efésios 1: 3; 2: 6).
Por outro lado, o analfabeto que não tem suficiente interesse sobre a revelação de Deus nem se dá ao trabalho de conseguir alguém para lê-lo para si. Tem outras prioridades na vida.
As cenas dos próximos versículos de Isaías 29 não são mais animadoras. Revelam nossa hipocrisia religiosa (Isaías 29: 12-14) e nosso ateísmo prático (Isaías 29: 15 e 16), estágios que percorremos durante nossa fuga para longe de Deus. Qual dos três pecados é o pior, eu não sei! Tudo o que eu sei é que o pior cego é aquele que não quer ver! Em breve, refletiremos sobre os dois últimos pecados.
Enquanto isto, venha acampar conosco durante este carnaval. O meu desejo é que, no final, você também exclame: valeu a pena ficar “retido no verão”!
Referências
1) Isaías: Deus salva os pecadores, 8° impressão, página 189 - Raymond C.Ortlund Jr - Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro/RJ, 2020.
2) Isaías: Deus salva os pecadores, 8° impressão, página 200 - Raymond C.Ortlund Jr - Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro/RJ, 2020.
João Marques